sábado, 12 de junho de 2010

Quadras soltas




Se o homem tivesse arte
Para ver o lado oposto,
Via paz em toda a parte
...E lavava mais o rosto.

Este mundo parece ter
Uma estranha semelhança,
Destinada a fazer ver
O que o homem não alcança.

Em cada história contada
Tudo se conta e resume,
À vantagem retirada
Do proveito e do ciúme.

Oiço falar em progresso
Aos que me falam de cor
Mas, depois de ouvir, lhes peço
Que me falem mais de amor.

O amor que queima e tece
As saudades repartidas,
É amor que não se esquece
Nem por duas ou três vidas.

Todos nos falam de Deus,
Com sublimes teorias;
Rogam em nome dos céus
Os seus favores e manias.

Se além da vida há eterno
E se Deus nos dá sentença,
Imagino que o inferno,
É maior do que se pensa.

Deus nos dê o seu perdão
E qualquer coisa divina,
Porque as voltas que se dão
São sempre a mesma rotina.

António Prates

Lágrimas de uma rosa



As rosas também choram
Eu vi,
Uma rosa vermelha
Chorar por ti,
...Foi numa manhã
Quando acordou,
Ela não te viu
Por ti chorou.

Acidália Nunes Sabóia Lopes...poema escrito no Torrão em 1987 ( publicado no seu único livro Poemas e Nostálgia ) Acidália nasceu em 1935.

Olhando uma criança




Corre-me o pensamento
atrás de doce esperança!
estendo as mãos, os dedos,
...e solto os meus segredos:
Ter assim um filho,
eis meu desejo,
como aquele menino
que ali vejo.

Eu não acredito!
Eu não compreendo!
Que haja homens ou senhoras
que não desejem crianças,
moreninhas ou louras,
como aquela que estou vendo!

Francisco Miguel Duarte, poeta de Baleizão ( 1908- 1988 )

Talvez um dia




Talvez um dia te faça um poema...!

Talvez um dia te conte um conto...!
...
Porém, as letras vestem de espanto

Todas as rimas do mesmo tema...

Talvez um dia te faça um poema

Com as quatro letras da minha sina;

Cheio de graça, de sacarina

Vinda dos trechos de um nobre tema...

Talvez um dia seja um soneto

Que te descreve como eu te vejo...

Falo de amores, de um terno beijo

E das palavras a branco e preto...

Talvez um dia...!

António Prates
(In Sesta Grande)

Glosa


Mote
Pergunto ao vento que passa
Notícias
do meu País
O vento cala a desgraça
...O vento nada me diz

(Manuel
Alegre)
Glosas

Este
mote ouvi um dia
Numa canção bem cantada
E por mim considerada
Das
mais lindas que eu ouvia.
Quem fez esta poesia
Via o futuro sem
ter graça,
Sem algo que o satisfaça
No seu exílio infernal,
Notícias
de Portugal,
Pergunto ao vento que passa.



Sofreu,
não desesperou
Dum sofrimento tão vil,
Mas o 25 de Abril
Afinal
sempre chegou.
Satisfeito regressou
Considerou-se feliz
Por
ver o que sempre quis
- Em Portugal nova aurora –
Perguntava a
toda a hora
Notícias do meu País.

Dizia
Manuel Alegre
No seu exílio sombrio:
Se morrer, morro com brio
Sem
que à tristeza me entregue,
Por muito que alheio navegue
Sou quem
o exílio abraça,
Julgo o vento de má raça
Porque o é,
infelizmente.
De quem sofre injustamente,
O vento cala a
desgraça.




Sofreu com brio
e coragem
Esperava a todo o momento
Que até o próprio vento
Lhe
levasse uma mensagem.
Não o quero em desvantagem,
- Ponham-se as
pintas nos iis! –
Não sejamos imbecis
Deixemos de hipocrisia,
Lembrai-vos
quando ele dizia
O vento nada me diz!



Manuel
Inácio Veladas (Ti Limpas)
Manuel Inácio Veladas é natural de Ferreira de Capelins,
Alandroal, onde nasceu e reside há 76 anos de idade.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ventos na sombra


Ventos na sombra empurram a luz,
suaves segredos que teu corpo seduz.
Momentos, instantes de puro prazer,
vontade, desejo de apenas te ter.

Dançam os corpos na Noite vazia,
silêncios despidos que a alma temia.
Passos certeiros de meu corpo se elevam,
entregues a ti quando minhas mãos te levam.

Gritos contidos e...nvoltos em magia,
almas perdidas que a Noite vigia.
Formas diversas se agitam no ar,
ondas imensas se levantam no mar.

No instante mais longo do tempo,
minha vida te entrego num simples lamento.
Abraças o corpo que em ti se abandona,
mulher, menina ou simples amazona.

in Reflexos d'Alma de António Almas

O Alentejo é imenso


O Alentejo é imenso

De história para se ouvir

Outrora, de lutas, intenso

Vê hoje a paz a florir.



Foi reconquista de reis

Berço de muitos doutores

De analfabetos escritores

E inspirador de pincéis.

Num clima que rege as leis

Dum solo de barro denso

Respira-se puro incenso

Que o difere entre o país

Onde na boca do povo se diz

O Alent...ejo é imenso.



É tamanho em liberdade

Em solitária beleza

Ou não fosse tão portuguesa

Esta terra da saudade.

No silêncio da humildade

Chora de gente a partir

Para um sonho perseguir,

Ainda assim para quem fica

Brilha sorrindo tão rica

De história para se ouvir.



Uma delicia da memória

Que transportou emoção

De geração em geração

Pelos caminhos da glória.

E por uma santa Victoria

E uma padeira de bom senso

Apraz-me dizer que pertenço

A uma província de Portugal

País livre sem outro igual

Outrora de lutas intenso.



É tempo de nova esperança

Com a luta ainda presente

No rosto da boa gente

Deste Alentejo em mudança

Que mostra a cada criança

O caminho para evoluir

E não sabendo ainda sorrir

Com um saber de cuidado

Que aprendeu no passado

Vê hoje a paz a florir.



..Tavico