quinta-feira, 29 de abril de 2010
OS TEUS OLHOS SÃO MAIS VERDES QUANDO CHORAS*
E os meus nem sei da cor que são quando choro.
E choro!... Ver mais
Chorei sem vergonha, ainda agora, diante da gente que se juntava à mesa do almoço, em Moura.
Eu explico melhor.
Colóquio de homenagem à memória de quem saiu de Moura para morrer em África, diziam, que em defesa da pátria.
Durante a minha intervenção, a custo me contive porque as palavras saltavam sem controlo, directamente do coração para o oxigénio da sala cheia.
Ainda assim, a determinada altura, querendo dizer a palavra décadas, perdi-me em deca…deca…deca, olhei em volta a pedir socorro e alguém na mesa disse décadas.
Escapei. O pânico passou e acabei um discurso de 20 minutos que havia pensado para palavras diferentes.
Almoço alentejano, depois, bom vinho, branco com uns enchidos, uns queijinhos e tal. Tinto também com um bom prato de carne, conversa com os vizinhos da mesa.
Um daqueles grupos corais polifónicos, juntou-se, enlearam braço a braço, cantaram e… esbarrondei-me.
Aquela voz vinha da terra e os cantores eram apenas as colunas do sacro sistema sonoro que consagrava o telúrico.
Pensei!
Estes gajos não existem. Quer dizer, a gente que representam, cantando de braço dado, não são eles. Pode até dizer-se que nem existe já tal gente, perdida nos séculos de uma vida dura e firme, de batalhas contra a fome a exploração desumana, de sol-a-sol engravidando a terra do patrão.
Não, porra!
Que sufoco era aquele que me chegava do fundo de mim, me esganava subindo até à boca, aos olhos, à cor e à temperatura da pele da face?
Tentei resistir e não pude.
Tentei esconder e não pude.
Ao meu lado a companheira do Luís estendeu um guardanapo e disse não te contenhas.
Já não escondia. Os outros fingindo que não viam e eu fingindo que não sabia que eles viam.
Parou o cante mas não as lágrimas, teimando no caminho que a força da gravidade lhes impunha.
Largos minutos para que serenasse, num jogo conivente e colectivo de faz de conta que não foi nada.
Recuperado da pancada súbita, não esperei muito. Agarrei minhas coisas e, quase à francesa, levantei o braço direito e disse obrigado até à próxima, pessoal!
José Brás
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