quarta-feira, 30 de junho de 2010
Aldeia da Luz
ALDEIA ALENTEJANA!
ÉS TU A SACRÍFICADA.
VAIS DEIXAR DE EXISTIR!
MAS SERÁS SEMPRE RECORDADA!
...MINHA ALDEIA DA LUZ!
TENHO DE ABANDONAR-TE!
OUTRA ALDEIA NÃO SEDUZ!
SOU OBRIGADA A DEIXAR-TE!
UMA NOVA ALDEIA FIZERAM!
PARA LÁ EU IREI VIVER.
COM TEU NOME A BAPTIZARAM!
MAS A TI JAMAIS VOU ESQUECER.
MUITAS PESSOAS TE VÊM ADMIRAR.
ÉS MAGESTOSA,ÉS UMA RAINHA!
PORQUE NÃO PODES AQUI FICAR?
MINHA ALDEIA PEQUENA,BRANQUINHA!
SUBMERSA NAS ÁGUAS DO ALQUEVA!
PORQUE O ALENTEJO PRECISA DE ÁGUA!
A SAUDADE A BARRAGEM NÃO LEVA!
MEU CORAÇÃO CHORARÁ DE MÁGOA.
ALDEIA DA LUZ SUBMERSA!
SÓ ME RESTA A CONSOLAÇÃO.
QUE UM DIA AQUI VIVI!
VIVI... DE ALMA E CORAÇÃO!
Leo Marques
domingo, 13 de junho de 2010
Monsaraz tens um castelo
Nas varandas
Que de ti demandam
Vislumbro o mundo inteiro
Vejo o Alqueva
Nos braços do Guadiana
Em traços do infinito
Sorri Mourão
No altar do seu castelo
Com Espanha ali ao lado
Aquelas aragens brandas
Que em ti jamais mandam
Refrescam-te do teu braseiro
Em ti nada enerva
A acalmia que de ti emana
Na beleza de que és perito
No alto da imensidão
Tens também teu castelo
No teu retrato aprumado
És património do mundo
Que a teus pés se ajoelha
Perante um solo fecundo
E um som por trás da orelha
Jamais se fica moribundo
Por baixo da tua telha
António MR Martins
2010.06.13
P. S. - Uma pequena dedicatória a uma terra alentejana que muito gosto.
sábado, 12 de junho de 2010
Compadre
Tantos compadres eu tenho
Amigos sim, outros não
Que o Alentejo é tamanho
De muita côdea de pão
De porco preto ou do branco
Como bebo do bonzinho
Não sou racista nem santo
Nem coirato de toucinho
De moros e cristianos
De dois lhe chamam baião
Noutras terras há muitos anos
Ao nosso arroz e feijão
Coisa que eu não sei fazer
Bailar bem o corridinho
Só se alguém me oferecer
Uma malga de bom vinho
José Brás
Alentejo
ALENTEJO PLANÍCE DOURADA.
COM TEUS CAMPOS FLORIDOS.
OUTRA BELEZA NÃO HÁ IGUAL!
...ÉS PINTURA DA NATUREZA.
QUE TEM O NOSSO PORTUGAL.
QUANDO CHEGA A PRIMAVERA
COMO É BELO O QUE VEJO.
SÃO AS CORES DO ARCO IRIS
CORES DO NOSSO ALENTEJO
ALENTEJO É UMA AGUARELA.
QUE DEUS MANDOU PINTAR!
É DAS TELAS MAIS BELAS,
QUE SE PODE ADMIRAR.
ALENTEJO TUAS VILAS E ALDEIAS,
são COM PINTURA ORIGINAL
CASAS DE BRANCO E AZUL CAIADAS
NOUTRA REGIÃO NÃO HÁ IGUAL.
Leo Marques
À procura de um poema
À procura de um poema
Percorri sete partidas
Naveguei por sete mares...
...Será que valeu a pena?
Que vale a pena lutar?
Poucas respostas sabidas
Medrança no perguntar.
Quem quiser vida sonhada
Muito deve caminhar
E quem procura poemas
Nunca mais irá parar.
Mas será que vale a pena?
Que vale a pena lutar?
Poucas respostas sabidas
Medrança no perguntar.
( Francisco José Lampreia )
Quadras soltas
Se o homem tivesse arte
Para ver o lado oposto,
Via paz em toda a parte
...E lavava mais o rosto.
Este mundo parece ter
Uma estranha semelhança,
Destinada a fazer ver
O que o homem não alcança.
Em cada história contada
Tudo se conta e resume,
À vantagem retirada
Do proveito e do ciúme.
Oiço falar em progresso
Aos que me falam de cor
Mas, depois de ouvir, lhes peço
Que me falem mais de amor.
O amor que queima e tece
As saudades repartidas,
É amor que não se esquece
Nem por duas ou três vidas.
Todos nos falam de Deus,
Com sublimes teorias;
Rogam em nome dos céus
Os seus favores e manias.
Se além da vida há eterno
E se Deus nos dá sentença,
Imagino que o inferno,
É maior do que se pensa.
Deus nos dê o seu perdão
E qualquer coisa divina,
Porque as voltas que se dão
São sempre a mesma rotina.
António Prates
Lágrimas de uma rosa
Olhando uma criança
Corre-me o pensamento
atrás de doce esperança!
estendo as mãos, os dedos,
...e solto os meus segredos:
Ter assim um filho,
eis meu desejo,
como aquele menino
que ali vejo.
Eu não acredito!
Eu não compreendo!
Que haja homens ou senhoras
que não desejem crianças,
moreninhas ou louras,
como aquela que estou vendo!
Francisco Miguel Duarte, poeta de Baleizão ( 1908- 1988 )
Talvez um dia
Talvez um dia te faça um poema...!
Talvez um dia te conte um conto...!
...
Porém, as letras vestem de espanto
Todas as rimas do mesmo tema...
Talvez um dia te faça um poema
Com as quatro letras da minha sina;
Cheio de graça, de sacarina
Vinda dos trechos de um nobre tema...
Talvez um dia seja um soneto
Que te descreve como eu te vejo...
Falo de amores, de um terno beijo
E das palavras a branco e preto...
Talvez um dia...!
António Prates
(In Sesta Grande)
Glosa
Mote
Pergunto ao vento que passa
Notícias
do meu País
O vento cala a desgraça
...O vento nada me diz
(Manuel
Alegre)
Glosas
1ª
Este
mote ouvi um dia
Numa canção bem cantada
E por mim considerada
Das
mais lindas que eu ouvia.
Quem fez esta poesia
Via o futuro sem
ter graça,
Sem algo que o satisfaça
No seu exílio infernal,
Notícias
de Portugal,
Pergunto ao vento que passa.
2ª
Sofreu,
não desesperou
Dum sofrimento tão vil,
Mas o 25 de Abril
Afinal
sempre chegou.
Satisfeito regressou
Considerou-se feliz
Por
ver o que sempre quis
- Em Portugal nova aurora –
Perguntava a
toda a hora
Notícias do meu País.
3ª
Dizia
Manuel Alegre
No seu exílio sombrio:
Se morrer, morro com brio
Sem
que à tristeza me entregue,
Por muito que alheio navegue
Sou quem
o exílio abraça,
Julgo o vento de má raça
Porque o é,
infelizmente.
De quem sofre injustamente,
O vento cala a
desgraça.
4ª
Sofreu com brio
e coragem
Esperava a todo o momento
Que até o próprio vento
Lhe
levasse uma mensagem.
Não o quero em desvantagem,
- Ponham-se as
pintas nos iis! –
Não sejamos imbecis
Deixemos de hipocrisia,
Lembrai-vos
quando ele dizia
O vento nada me diz!
Manuel
Inácio Veladas (Ti Limpas)
Manuel Inácio Veladas é natural de Ferreira de Capelins,
Alandroal, onde nasceu e reside há 76 anos de idade.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Ventos na sombra
Ventos na sombra empurram a luz,
suaves segredos que teu corpo seduz.
Momentos, instantes de puro prazer,
vontade, desejo de apenas te ter.
Dançam os corpos na Noite vazia,
silêncios despidos que a alma temia.
Passos certeiros de meu corpo se elevam,
entregues a ti quando minhas mãos te levam.
Gritos contidos e...nvoltos em magia,
almas perdidas que a Noite vigia.
Formas diversas se agitam no ar,
ondas imensas se levantam no mar.
No instante mais longo do tempo,
minha vida te entrego num simples lamento.
Abraças o corpo que em ti se abandona,
mulher, menina ou simples amazona.
in Reflexos d'Alma de António Almas
O Alentejo é imenso
O Alentejo é imenso
De história para se ouvir
Outrora, de lutas, intenso
Vê hoje a paz a florir.
Foi reconquista de reis
Berço de muitos doutores
De analfabetos escritores
E inspirador de pincéis.
Num clima que rege as leis
Dum solo de barro denso
Respira-se puro incenso
Que o difere entre o país
Onde na boca do povo se diz
O Alent...ejo é imenso.
É tamanho em liberdade
Em solitária beleza
Ou não fosse tão portuguesa
Esta terra da saudade.
No silêncio da humildade
Chora de gente a partir
Para um sonho perseguir,
Ainda assim para quem fica
Brilha sorrindo tão rica
De história para se ouvir.
Uma delicia da memória
Que transportou emoção
De geração em geração
Pelos caminhos da glória.
E por uma santa Victoria
E uma padeira de bom senso
Apraz-me dizer que pertenço
A uma província de Portugal
País livre sem outro igual
Outrora de lutas intenso.
É tempo de nova esperança
Com a luta ainda presente
No rosto da boa gente
Deste Alentejo em mudança
Que mostra a cada criança
O caminho para evoluir
E não sabendo ainda sorrir
Com um saber de cuidado
Que aprendeu no passado
Vê hoje a paz a florir.
..Tavico
Alentejo
ALENTEJO PLANÍCIE DOURADA.
COM TEUS CAMPOS FLORIDOS.
OUTRA BELEZA NÃO HÁ IGUAL!
ÉS PINTURA DA NATUREZA.
QUE TEM O NOSSO PORTUGAL.
QUANDO CHEGA A PRIMAVERA
COMO É BELO O QUE VEJO.
SÃO AS CORES DO ARCO ÍRIS
CORES DO NOSSO ALENTEJO
ALENTEJO É UMA AGUARELA.
QUE DEUS MANDOU PINTAR!
É DAS TELAS MAIS BELAS,
QUE SE PODE ADMIRAR.
ALE...NTEJO TUAS VILAS E ALDEIAS,
são COM PINTURA ORIGINAL
CASAS DE BRANCO E AZUL CAIADAS
NOUTRA REGIÃO NÃO HÁ IGUAL.
Leo Marques
Á procura de um poema
À procura de um poema
Percorri sete partidas
Naveguei por sete mares...
Será que valeu a pena?
Que vale a pena lutar?
Poucas respostas sabidas
Medrança no perguntar.
Quem quiser vida sonhada
Muito deve caminhar
E quem procura poemas
Nunca mais irá parar.
Mas será que vale a pena?
Que vale a pena lutar?
Poucas r...espostas sabidas
Medrança no perguntar.
( autor - Francisco José Lampreia )
Quadras soltas
Quadras soltas...
Se o homem tivesse arte
Para ver o lado oposto,
Via paz em toda a parte
E lavava mais o rosto.
Este mundo parece ter
Uma estranha semelhança,
Destinada a fazer ver
O que o homem não alcança.
Em cada história contada
Tudo se conta e resume,
À vantagem retirada
Do proveito e do ciúme.
Oiço falar em progre...sso
Aos que me falam de cor
Mas, depois de ouvir, lhes peço
Que me falem mais de amor.
O amor que queima e tece
As saudades repartidas,
É amor que não se esquece
Nem por duas ou três vidas.
Todos nos falam de Deus,
Com sublimes teorias;
Rogam em nome dos céus
Os seus favores e manias.
Se além da vida há eterno
E se Deus nos dá sentença,
Imagino que o inferno,
É maior do que se pensa.
Deus nos dê o seu perdão
E qualquer coisa divina,
Porque as voltas que se dão
São sempre a mesma rotina.
António Prates
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem a m...atou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar.
Zeca Afonso
Onde vai a alentejana
Voando e a cantar
Lá vai de burro a magana
P´ró futuro a recuar
Caminhando gasta as botas
No burrico as ferraduras
Não louva a padres ou curas
Por becos e ruas tortas
Chegará a horas mortas
Cantando nem sei porquê
De boa vida não é
Nem riquezas nem farturas
Diga-me lá é você
Onde vai a alentejana
Os fados que ela entoa
No acento transtagano
Só falam de desengano
Da sua esperança à toa
O burrinho já nem voa
escutando seu fadistar
Pára muito admirado
Preso à beleza da voz
Sua dona muito a sós
Voando e a cantar
Cantando a garotona
Dos males que não merece
Mais feliz do que parece
E dando voltas à mona
Pensa o burrico da dona
No lombo com a alentejana
Cantando o fado cigana
Batendo pé no caminho
Mais lento que vagarinho
Lá vai de burro a magana
Esta coisa de ter mote
Em versos preso no pé
O meu forte é que não é
E eu nem sei o que é meu forte
Falando da alentejana
Cruzando terra maninha
A invenção não é minha
Pondo a cachopa a voar
Sem curso de pilotar
P´ró futuro a recuar
José Brás
quinta-feira, 29 de abril de 2010
nas barragens hás garças
nas praias há as gaivotas
no litoral há o polvo
no interior a bolotas
existe o Alentejo da praia
litoral e povoado
é lindo e também gosto
mas prefiro o outro lado
tem gaivotas a voar
e gente de toda a raça
no litoral a o peixe
no interior há a caça
o nosso Alentejo tem
porco preto de bandeira
dizem aqu...eles que comem
é bom de qualquer maneira
Baco é o Deus do vinho
disso nos orgulhamos
não há no mundo outro igual
como o vinho alentejano
Idalina Silva
No Alentejo
No Alentejo,
nessa planície que parece encostada ao céu,
nesse parado pensar que parece meditar,
nesse branco de cal amado nas árvores soltas,
nessa brisa quente desenhada na aragem,
nesse falar cantado de encantador,
nessa gente junta que junto trabalha,
nesse espaço imenso a perder de vista,
nessa solidão serena dos campos d...e viagem,
O Alentejo
é um ombro branco lindo e nú da paisagem.
José António Peres Sottomayor
A dor da felicidade
Mandado
O meu Alentejo.
Que lembro de ti, meu Alentejo?
Lembro a vastidão dos campos,
Tons de verde, de amarelo,
E vigiando a planície,
Orgulhosa sentinela,
Lembro a torre do castelo.
Lembro a casa do moleiro,
Agora meio destruída
E as velas do seu moinho
Asas paradas sem vida.
Nada ficou da aldeia,
A água tudo engoliu,
E naquele g...rande vale
Onde antes passava o rio,
Salvou-se o cimo do outeiro
Onde apenas um sobreiro
Ramos virados ao céu
Como que a pedir clemência
Resiste à calma e ao frio.
Lembro aqueles que partiram,
Os que partiram chorando,
Carregados de tantas mágoas
Que as mágoas os estão matando.
Será que os ventos mudaram
E que tudo está mudando?
Será que os teus filhos voltam
E que regressam cantando?
Vento que trazes notícias dos que partiram chorando
Traz novas dos seus regressos,
Diz-me se voltam e quando.
Francisco José Lampreia
Mais um dia em que me sinto perdida de mim perdida no mundo. Será que o mundo me esqueceu?!Ou sou apenas eu que me esqueci. Não creio; também nem quero acreditar quando se nasce o nosso destino está escrito. Temos que aprender a voar, sei que aprendi. Mas sem consentimento caí aos poucos sem ter asas p`ra voar. Quero encontr...ar o meu eu Verdadeiro, já me procurei em cada belo jardim só meus olhos viram as flores do canteiro, também procurei no azul do mar e do céu. Só meus olhos viram tanta beleza sem fim! Estou a ficar cansada de tanto me procurar. Por mais que tente é constante a procura mas em vão. Meus olhos vêem toda a beleza do mundo, só que o meu coração está de mim tão perdido que a vida deixou de fazer sentido, faz-me andar como barco no mar á deriva. Hoje sou mais um pássaro na asa ferido, sem ter eira nem beira nem asas para puder voar. Vou caminhando p´lo mundo, como se fora um vagabundo tentando o meu eu encontrar.
…………….. Leo marques
Retrospecção
O tempo que passou sem horas dadas,
Nas marcas da noção e do sentido…
Um
fardo de mensagens inventadas,
Na alma de um poema repartido…
O
Mundo com o mundo em cada regra,
E a mescla que me diz tudo amiúde…
Um
gesto que me põe na lista-negra...,
Por ser o fazedor de um gesto rude…
Um
rosto paladino ou sorridente,
Nos pontos reunidos e dispersos…
A
ampla concepção da boa gente
Que faz a claridade dos seus versos…
Um
Sítio de afectos, de queixumes,
Na vasta comunhão, - emoldurada…
Um
repto - com querelas e ciúmes -
Provindo de quem nunca me deu nada…
António
Prates
A primeira vez que te disse adeus
Na encosta de uma serra havia um carrascal
Onde
nascia o tojo, a esteva, um matagal.
Um dia entrou com ele a foice
roçadora;
Meteram a charrua e fez-se a lavoura.
Foi revolvida a
terra e feita a sementeira.
Algum tempo depois, já parecia um mar
O
vento sobre o trigo ao longe a ardear!
Foi crescendo, crescendo; a
es...piga bem dourada
Com o calor do Estio em pouco foi ceifada.
E
produziu bom pão o terreno maninho,
Onde apenas vencia a urze e o
rosmaninho!
Agora quando eu olho essa encosta da serra,
Vejo
que é uma lição que nos ensina a terra!
A sociedade é o
monte. A escola é o arado.
Quando abrindo o sulco, olhai vá bem
guiado...
Depois é semear. Será bela a colheita
Se a semente for
boa, e a lama for bem feita.
Também hão de dar pão essas
searas novas
E darão muita luz à humanidade inteira...
Abri
a terra, abri, fazei a sementeira...
Alda Guerreiro Machado
Renovação
n. 7 de 15 de Novembro de 1931.
OS TEUS OLHOS SÃO MAIS VERDES QUANDO CHORAS*
E os meus nem sei da cor que são quando choro.
E choro!... Ver mais
Chorei sem vergonha, ainda agora, diante da gente que se juntava à mesa do almoço, em Moura.
Eu explico melhor.
Colóquio de homenagem à memória de quem saiu de Moura para morrer em África, diziam, que em defesa da pátria.
Durante a minha intervenção, a custo me contive porque as palavras saltavam sem controlo, directamente do coração para o oxigénio da sala cheia.
Ainda assim, a determinada altura, querendo dizer a palavra décadas, perdi-me em deca…deca…deca, olhei em volta a pedir socorro e alguém na mesa disse décadas.
Escapei. O pânico passou e acabei um discurso de 20 minutos que havia pensado para palavras diferentes.
Almoço alentejano, depois, bom vinho, branco com uns enchidos, uns queijinhos e tal. Tinto também com um bom prato de carne, conversa com os vizinhos da mesa.
Um daqueles grupos corais polifónicos, juntou-se, enlearam braço a braço, cantaram e… esbarrondei-me.
Aquela voz vinha da terra e os cantores eram apenas as colunas do sacro sistema sonoro que consagrava o telúrico.
Pensei!
Estes gajos não existem. Quer dizer, a gente que representam, cantando de braço dado, não são eles. Pode até dizer-se que nem existe já tal gente, perdida nos séculos de uma vida dura e firme, de batalhas contra a fome a exploração desumana, de sol-a-sol engravidando a terra do patrão.
Não, porra!
Que sufoco era aquele que me chegava do fundo de mim, me esganava subindo até à boca, aos olhos, à cor e à temperatura da pele da face?
Tentei resistir e não pude.
Tentei esconder e não pude.
Ao meu lado a companheira do Luís estendeu um guardanapo e disse não te contenhas.
Já não escondia. Os outros fingindo que não viam e eu fingindo que não sabia que eles viam.
Parou o cante mas não as lágrimas, teimando no caminho que a força da gravidade lhes impunha.
Largos minutos para que serenasse, num jogo conivente e colectivo de faz de conta que não foi nada.
Recuperado da pancada súbita, não esperei muito. Agarrei minhas coisas e, quase à francesa, levantei o braço direito e disse obrigado até à próxima, pessoal!
José Brás
Sangue e dor
Sangue e dor...
Os campos desta terra trigueira
Emanam uma beleza especial
Terra de soberbas azinheiras
Perdidas nos confins de Portugal
Moças cantam em trova brejeira
Doce cantiga , poema ancestral
Melodia de uma vida inteira
Que cantam em tom soberbo, abismal
Ai minha terra, enorme clamor
Estás cravada na minha mente
Corres-me ...no sangue com tanta dor
Olhos no céu te imploro Senhor
Dá um novo alento a estas gentes
Fá-los sonhar, com um mundo de amor
Antonia ruivo
Moreninha Alentejana
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Sementeira
Sementeira
Na encosta de uma serra havia um carrascal
Onde
nascia o tojo, a esteva, um matagal.
Um dia entrou com ele a foice
roçadora;
Meteram a charrua e fez-se a lavoura.
Foi revolvida a
terra e feita a sementeira.
Algum tempo depois, já parecia um mar
O
vento sobre o trigo ao longe a ardear!
Foi crescendo, crescendo; a
es...piga bem dourada
Com o calor do Estio em pouco foi ceifada.
E
produziu bom pão o terreno maninho,
Onde apenas vencia a urze e o
rosmaninho!
Agora quando eu olho essa encosta da serra,
Vejo
que é uma lição que nos ensina a terra!
A sociedade é o
monte. A escola é o arado.
Quando abrindo o sulco, olhai vá bem
guiado...
Depois é semear. Será bela a colheita
Se a semente for
boa, e a lama for bem feita.
Também hão de dar pão essas
searas novas
E darão muita luz à humanidade inteira...
Abri
a terra, abri, fazei a sementeira...
Alda Guerreiro Machado
Renovação
n. 7 de 15 de Novembro de 1931.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
( Soneto ) Alentejano
Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros.
Nas ravinas do monte andam ceifeiros
Na faina, alegres, desde o sol nascente.
Cantam as raparigas, brandamente,
Brilham os olhos negros, feiticeiros;
E há perfis delicados de Trigueiros
Entre as altas espigas de oiro ardente.
A terra prende aos dedos sensuais
A cabeleira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos Céus.
Há gritos arrastados de cantigas...
E eu sou uma daquelas raparigas...
E tu passas e dizes: Salve-os Deus!
Florbela Espanca
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Indicação do lugar
( Foto de Luís Milhano )
Chegamos a uma página em branco atravessada por
um súbito silêncio uníssono
o rio é uma dobra do olhar onde sempre estivemos em surdina
é o exacto lugar
indiciador dos músculos
quem ousa escancarar as portas à cidade
Autor: Carlos Nogueira fino poeta Alentejano nascido na cidade de Évora
Chegamos a uma página em branco atravessada por
um súbito silêncio uníssono
o rio é uma dobra do olhar onde sempre estivemos em surdina
é o exacto lugar
indiciador dos músculos
quem ousa escancarar as portas à cidade
Autor: Carlos Nogueira fino poeta Alentejano nascido na cidade de Évora
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Saudade ( Cantando o Alentejo )
Saudade ( Cantando o Alentejo )
Ai se eu soubesse cantar
Cantigas de amor e chão
Para assim puder bailar
Segura na tua mão
Cantar eu não sei não
Minha mãe não me ensinou
Para o campo me mandou
Trabalhar colher o pão
Perdida na imensidão
Da planície Alentejana
Passava toda a semana
Trabalhando de sol a sol
Todos entravam no rol
Deste lado do Guadiana
Botei olhos num pastor
Rapaz de bigode farto
Perdida fiquei de quatro
No seu modo trovador
Cantou-me cantigas de amor
Roguei que me ensinasse
A cantar tamanha classe
Mostrou-me a terra lavrada
Anafou-me em ceara dourada
E mandou que me calasse
Minha sina assim traçada
Entre o trigo e o montado
Entre um beijo roubado
Entre o tudo e quase nada
De uma vida mal fadada
Cantei no vento suão
Cantigas em contra mão
Cantei como soube a saudade
Cantei a fraternidade
Na era da revolução
Hoje lembrando o passado
Olhos no céu peço a Deus
Que traga prós braços meus
Um pastor engalanado
Não precisa trazer gado
Contento-me com coisa pouca
Basta que traga voz rouca
Versos bem alto gritar
Que me faça cantar e bailar
A seu lado alegre fado
Antónia Ruivo
domingo, 11 de abril de 2010
Alentejo
Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul
Outro é o tempo
Outra a medida
Tão grande a página
Tão curta a escrita
Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo
Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum
À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia
Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia
Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)
sábado, 10 de abril de 2010
Abalei do Alentejo
Abalei do Alentejo "
Num passado perdido
Verão quente alentejano
Débil criancinha
No machibombo foi metida
Sem voto ou vontade
P'ra cidade foi trazida
Para trás ficou
Aquilo que nunca teve
Ar puro, liberdade,
Brincar na natureza,
Ver searas a crescer
Ou pelos montes correr.
No seu coração,
Sempre manteve
A saudade do que não teve.
S...uas raizes alentejanas
Continuaram pelo tempo
Morrerão consigo
Quando levada no vento.
Maria Antonieta Oliveira
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Se fores ao Alentejo,
ante a beleza infinita
tranquila, clara, bendita
sem querer vais semear,
do teu olhar comovido
lágrimas no fértil solo
a semente do teu beijo
se fará meigo trigal
e num belo madrigal
o desejo do teu olhar.
se elevará rumo ao sol
quando sonha o rouxinol.
Aires Plácido & Maria Petronilho
10/6/2007
Subscrever:
Mensagens (Atom)